C-Drama: Arsenal Military Academy (2019)

Meu centésimo drama finalizado! Não deveria ser esse, na verdade, pois estava assistindo muita coisa em paralelo, mas parei tudo quando comecei a assistir esse drama chinês de 48 capítulos.

É fácil encontrar para assistir com legendas em inglês (tem no Viki e no YouTube) mas parece que pouca audiência internacional escutou falar dele, porque os perfis que costumo acompanhar no instagrão para me manter atualizada não falavam nada sobre ele. Foi muito ao acaso mesmo que esbarrei em alguma cena vital da trama e logo me interessei, porque vocês já devem saber que eu adoro um gender-bender desde os tempos de Mulan e esse drama é total essa vibe.

A história se passa no começo do século XX e sou forçada a fazer um breve resumo do que se passava na China na época (conhecimento que também tive que pesquisar para entender a trama política do drama). A dinastia Qing governou de 1644 a 1911 e terminou com a ascensão do sistema republicano, ainda frágil e mal estruturado, em que industriais ou líderes militares podiam se tornar pequenos “imperadores” de territórios. Já em se tratando de política internacional, esse período coincide com o final da Primeira Guerra Mundial e todas as implicações do Tratado de Versalhes, que no caso da China havia lutado do lado da Tríplice Entente, ou seja, do lado vencedor. Mas a China acabou se ferrando nesse acordo pois segundo o Tratado perderia o território de Shandong, que passaria de mãos alemães para japonesas. E é óbvio que a China contestou esse ponto, mas os europeus e americanos se fizeram de surdos e não prestaram atenção, cuidando dos próprios interesses. Os diplomatas chineses mandados para a negociação trouxeram a derrota e foram vistos como traidores, motivando os movimentos de contestação popular sobre o problema de Shandong, especialmente manifestações estudantis duramente reprimidas pelo governo. Mas elevar as vozes deu algum resultado, com a atenção de outras províncias ao que ocorria em Shandong e o crescente nacionalismo. Shandong voltou as mãos chinesas em 1922 (e mais tarde passou para o Japão novamente e voltou para a China com o governo comunista, mas não vemos nada disso no drama então pula).

Xie Xiang (Bai Lu) é uma jovem comum que perde o irmão mais velho, Xi Liangchen, quando decide seguir o plano que o irmão tinha de entrar na Academia Militar Arsenal, meio que aparentemente sem saber muito bem o porquê além de lidar com a tristeza da pessoa mais próxima a ela desta maneira. A Academia não aceita mulheres, então ela assume a identidade de Xi Liangchen e de maneiras escusas consegue passar nas avaliações iniciais. Gu Yanzhen (Xu Kai) é o único filho de um embaixador que está negociando essa situação de Shandong e é conhecido por ser um bon vivant e não levar nada a sério, arranjando confusões por onde passa. Como castigo por mais uma de suas presepadas, o pai o manda para a academia, onde ele acaba se tornando companheiro de quarto de Xi Liangchen e logo descobre seu segredo.

Outros personagens de importância no local são Shen Junshan (Toby Lee), também de uma família rica e poderosa que abandona a faculdade de medicina pelos valores patrióticos expressos na vida militar, e Huang Song (Liu Si Bo), rapaz vindo da zona rural, não muito espero mas muito apto para a vida militar e que se torna melhor amigo de Xi Liangchen. O triângulo amoroso da trama fica a cargo de Xie Xiang, Gu Yanzhen (sempre muito vocal em seus sentimentos, mesmo diante dos olhares preconceituosos dos outros que assumem que ele é gay) e Shen Junshan (que demora bastante tempo para descobrir que a protagonista é mulher e entra na crise de identidade protocolar dos gender-benders).

Qu Manting (Wu Jia Yi) é uma cantora/atriz famosa que tem uma relação complicada com o irmão de Shen Junshan, o empresário Shen Tingbai (Hing Yao) e se apaixona por Gu Yanzhen ao mesmo tempo em que tenta resolver seus conflitos familiares e um pai que vive querendo casá-la e desaprova sua profissão. Jin Xiaorong (Gao Yu Er) é a personagem feminina mais poderosa desse drama mas é também a vilã. Apesar de ter sido criada pelos descendentes da família imperial, ela foi adotada por um japonês e passa a representar os interesses japoneses na região, bem numa personificação do vilão estrangeiro, cometendo atrocidades a torto e a direito. O drama tem tempo para e desenvolve bastante outros personagens, mas esses são os centrais e os que você sempre verá.

Apesar de uma abordagem bem patriótica da história, esse drama também tem essa pegada de militarismo, com a parte dos treinamentos (e não poupa a personagem feminina, que sempre se dá mal nos exames físicos e testes masculinos, a não ser naqueles que exigem inteligência e habilidade ao invés de força bruta) e conflitos armados. Xie Xiang não é em nenhum momento uma damsel in diistress, a frágil mulher que precisa ser salva, sendo colocada no meio da ação e tendo inclusive suas missões solo de importância para o plot. Muitos personagens morrem durante a trama e isso é muito necessário pois seria impossível trazer qualquer realismo e gravidade da situação histórica sem essas despedidas (mas fique tranquilo quanto aos protagonistas…). A maquiagem deixa por vezes a desejar e os cenários se reptem com alguma frequência (teve um lugar a que devem ter se referido como três hoteis diferentes durante o drama), mas apesar disso a caracterização da época é bem bonita, assim como os figurinos.

A parte do romance é bem desenvolvida e te faz torcer para o casal certo (pelo menos no meu caso) mesmo com todos os problemas, especialmente porque apesar da introdução tumultuosa do personagem de Gu Yanzhen ele tem aquele charme (em grande parte atribuível a um corte de cabelo muito vitorioso) e umas expressões faciais de absoluta inocência e peraltice que abrandam a má impressão inicial. Já vou avisando que você (e eu também) sentirá falta de demonstrações físicas do amor desse casal mas é porque a China baixou uma lei de censura em certas obras em relação a beijos e skinship e, apesar dessas cenas terem sido gravadas, elas foram cortadas (e são encontráveis na internet, em todo o caso…).

Em outras coisas especiais: a abertura e o primeiro encerramento são muito legais e a abertura especialmente não faz aquele negócio irritante de mostrar todos os spoilers da trama!